terça-feira, 28 de setembro de 2010

Quidados com os esageiros!


Os médicos de todas as áreas “receitam” exercício físico para combater ou prevenir as mais variadas doenças – infarto, resfriado e até depressão. A preocupação que agora surge no cenário da medicina esportiva é com a “overdose” desta medicação. O tema da moda entre os especialistas é encontrar um instrumento capaz de avaliar quando é hora de reduzir a dose dos treinos. O mau-humor é um dos escolhidos para indicar estes excessos.

“Feito qualquer medicamento de qualidade, o exercício físico também precisa de limites. Mas como é sempre tido como inofensivo, as pessoas esquecem de suspeitar que o excesso desta prática pode fazer mal”, afirmou o médico especializado em medicina do esporte Tales de Carvalho, durante o Congresso Brasileiro de Cardiologia em Belo Horizonte (evento que acontece até quarta-feira – 29 – e será usado para definir as novas diretrizes da medicina esportiva do País).

Carvalho e um grupo de cardiologistas e vários locais do País estão empenhados em criar um questionário eficiente e de fácil aplicação para conseguir – em pouco mais de dois minutos – identificar o mal chamado de overtraining (treino em excesso em português), já disseminado como nocivo e perigoso em muitas pesquisas clínicas.

As experiências internacionais e algumas iniciativas isoladas no Brasil já encontraram um início de caminho. O humor e a hipertensão são dois exemplos de melhora imediata com a prática de esporte, seja uma caminhada, ginástica ou boxe, e podem ser usados para avaliar a dose correta das atividades.

“Se a sensação de cansaço, desânimo, tristeza, angústia e mau-humor não melhorarem é indicativo de que a dosagem do exercício pode estar errada. A pressão também precisa ficar controlada ou, em caso de hipertensos, deve reduzir após a prática de atividades”, acrescenta Carvalho que em suas avaliações já utiliza um roteiro de perguntas para identificar se o praticante de exercícios se sente “apavorado”, “confuso”, “cansado” entre outras sensações que denunciam “efeito colateral” do esporte excessivo .

Inimigo maior

O overtraining ainda é um problema muito menor do que o sedentarismo, este sim uma epidemia nacional que afeta, segundo os dados mais atualizados do Ministério da Saúde, 90% dos brasileiros, sendo ainda maior entre as mulheres.

“As nossas preocupações com o excesso de treinos não podem funcionar como mais uma barreira para as pessoas fazerem exercícios”, acredita o médico Nabil Gorayebe, principal referência nacional em medicina do esporte, ligado à Sociedade Brasileira de Cardiologia e à Sociedade Brasileira de Medicina do Esporte. “Mas é fato também que não podemos continuar sem controle nenhum, fazendo com que em alguns casos a prática seja mais nociva do que positiva”, afirma.

Danos fatais

A dosagem errada do esporte pode desencadear problemas sérios de saúde – como lesões musculares, arritmias – até mesmo nos atletas amadores, como reforça o médio Tales de Carvalho. Mas entre os esportistas profissionais e pessoas que participam de maratonas de corrida e ciclismo, o overtraining vai além do mau humor e da pressão alta e pode ser fatal.

De acordo com as pesquisas do médico do esporte do Instituto Dante Pazzanese, Ricardo Cortesini, a prática contínua e de alta dosagem de esporte faz com que os corações dos atletas sejam maiores do que os órgãos de pessoas que não têm a mesma rotina esportiva.

Estas alterações anatômicas não necessariamente são um problema, mas em situações de excesso de treino ou falta de acompanhamento podem ser o gatilho de uma doença cardíaca grave e também de morte súbita, muito mais comum no mundo do esporte (entre esportistas a incidência é de 1,76 casos em 100 mil pessoas. Em amadores o número de morte súbita cai para 0,76 em 100 mil pessoas).

Outro fator que potencializa os danos negativos do excesso de treino é a alimentação inadequada, neste caso mais comum em amadores e frequentadores de academias. “As pessoas fazem regimes por conta própria, vão para academia sem comer nada de carboidrato e desmaiam em cima da esteira. Uma mistura entre excesso e falta de cuidado”, informa Gorayebe.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Quidado com o que voce come


Quem nunca teve um mal-estar, acompanhado de dor de barriga e vômitos depois de comer alguma coisa na rua?

Só no ano passado, o Centro de Vigilância Epidemiológica (CVE), do governo do Estado de São Paulo, notificou 7253 casos de doenças transmitidas por água e alimentos (DTA) – tendo como agentes bactérias como a Salmonella e a E. coli, entre outras. Desse total, foram 384 surtos e seis óbitos.

O perigo que pode estar no carrinho de cachorro-quente e no restaurante próximo ao trabalho também pode ser encontrado na geladeira de casa.

“Todos os alimentos são de riscos se preparados sem higiene e/ou mantidos sem refrigeração ou aquecimento adequado”, alerta Maria Bernadete de Paula Eduardo, diretora da Divisão de Doenças de Transmissão Hídrica e Alimentar do Centro de Vigilância Epidemiológica/SES-SP.

Na rua

Alguns alimentos exigem cuidado dobrado antes de serem colocados no prato, ainda mais quando não se conhece a sua procedência. Confira os cinco alimentos mais relacionados a riscos de contaminação nas ruas:

Ovo

Pode abrigar a bactéria Salmonella, que causa diarreia, febre e vômitos, e até óbito em crianças, gestantes e pessoas com o sistema imunológico debilitado. “O maior risco é ingerir mal cozido (com a gema mole) ou cru (usado em alguns preparos como a maionese)”, alerta a nutricionista Patrícia Ramos, coordenadora do Serviço de Nutrição do Hospital Bandeirantes, de São Paulo.

Segundo o biomédico Roberto Figueiredo, o Dr. Bactéria, um em cada 200 ovos em uma granja pode conter a Salmonella. A dica é optar pelo produto pasteurizado. “O processo de pasteurização elimina a bactéria”, diz o especialista. Acontece que na rua nem sempre é possível confiar na procedência do alimento.

“Se o ovo estiver contaminado, a alta temperatura do cozimento será capaz de eliminar o microorganismo”, completa a nutricionista Jaqueline Bernardini, da Clínica Medicina Integrada, de São Paulo.

Folhas

Larvas e bactérias podem estar escondidas entre as folhas verdinhas expostas nas travessas dos restaurantes a quilo. “Só lavar com água não basta. É preciso realizar uma desinfecção química para eliminar os microorganismos”, explica a nutricionista Patrícia Ramos. Isso significa que antes de serem oferecidas ao consumo, as verduras devem ficar mergulhadas por pelo menos 15 minutos em uma mistura de água e água sanitária (hipoclorito de sódio) – para cada litro de água, uma colher de sopa de água sanitária de boa procedência e não odorizada.

Não é o caso de eliminar a salada do prato, claro. “Mas fique atento à higiene do local e às condições de preparo e armazenamento dos alimentos”, reforça Maria Bernadete de Paula Eduardo, do CVE.

Carnes

Espetinhos, churrasquinhos, sanduíches de carne assada podem conter a bactéria Clostridium perfringens, causadora de cólicas e diarreia. Esse microorganismo é resistente muitas vezes até ao cozimento. “A carne deve ser armazenada sempre em temperatura inferior a cinco graus. Na hora de consumir, opte pela preparada na hora e bem passada, sendo mantida acima de 60 graus”, ensina Dr. Bactéria.

Cachorro-quente

O problema principal está na salsicha, que pode conter a bactéria Listeria monocytogenes. Após sua ingestão, costumam aparecer diarreia e fortes cólicas abdominais, por 24 horas. Não é indicado consumir a salsicha que esteja fora de refrigeração, crua ou aquela mergulhada há horas na panela do carrinho de cachorro-quente, a não ser que a água emane vapores, isto é, esteja acima de 60 graus.

“Ela deve ser cozida na hora e por cinco minutos após levantar fervura”, aconselha Dr. Bactéria. Cuidado ainda com o purê que acompanha o sanduíche: por ser preparado com leite e muitas vezes ficar exposto inadequadamente – o que também pode causar problemas.


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Maionese

Para passar a ideia de saborosa e sem aditivos químicos, muitos comerciantes oferecem a “maionese caseira”. Além do risco da contaminação pelo uso de ovos crus no preparo, a falta de higiene da embalagem (bisnagas) e a refrigeração inadequada transformam o alimento em uma bomba de contaminação.

“Nunca coma maionese feita com ovos crus ou em embalagens que ficam fora da geladeira. Prefira os sachês industrializados para maionese, mostarda e catchup”, diz Maria Bernadete.

Em casa

Nem a segurança do lar está imune aos microorganismos. Aliás, pesquisas apontam que a maior parte dos casos de contaminação acontece dentro de casa. Conheça os top 5 da contaminação residencial.

Sobras do almoço

Aquele arroz com feijão que sobrou do almoço podem ficar para o jantar e até para o dia seguinte. Desde que manipulados de maneira adequada. “Tire das panelas, acondicione-os em outro recipiente e leve-os à geladeira”, ensina Jaqueline Bernardini.

“Pode guardá-los até mesmo quentes. Isso não estraga a geladeira, nem a comida”, diz Dr. Bactéria. Mas até que esfriem, mantenha o recipiente aberto. “Aquelas gotículas de água que se formam na tampa (umidade) podem facilitar a proliferação de bactérias”, completa a nutricionista.

A geladeira doméstica geralmente trabalha a 10 graus: nessa temperatura é capaz de conservar a comida por 24 horas. Se estiver a cinco graus, o prazo se estende até três dias. Agora, se a sobra foi grande e não será consumida rapidamente, melhor congelar.

Frios

Retire-os da embalagem original e coloque-os em recipientes com tampas. Na hora de se servir de uma fatia, utilize um garfo, evitando manipular o alimento com as mãos. “Consuma-os em até dois dias”, sugere a nutricionista da Clínica Medicina Integrada. Ranço e gosma na superfície dos frios significam microorganismos em ação – e problemas de contaminação na certa se forem ingeridos.


Foto: Thinkstock/Getty Images
Staphylococus aureus contidos na saliva voam sobre o bolo
Bolo de aniversário

Geralmente recheados e preparados com leite e ovos, eles costumam ficar expostos, enfeitando a mesa do aniversariante.

“Esse tipo de alimento não pode ficar mais de duas horas em temperatura ambiente, sob o risco de favorecer a proliferação de bactérias e toxinas”, alerta Dr. Bactéria.

Mas o risco maior está na hora de apagar as velinhas. “O aniversariante assopra e espalha gotículas de saliva cheias de Staphylococus aureus, que podem produzir toxinas que provocam intoxicações com náuseas e vômitos.

Palmito

Ao comprar o produto verifique as informações da embalagem: o rótulo deve conter a data de validade, o número do lote e os dados do fabricante. Um alimento de má procedência pode conter a toxina botulínica, bactéria transmissora do botulismo, doença que pode levar à morte.

”Palmito em conserva só deve ser adquirido de marca e estabelecimentos confiáveis. Por ser um vegetal mole, ele não resiste a altas temperaturas e para que não venha desenvolver a toxina botulínica deve ser preparado industrialmente com quantidades de ácido e sal adequadas. As conservas clandestinas, caseiras ou adquiridas em beira de estrada são de extremo risco”, avisa Maria Bernadete, do CVE. E antes de consumi-lo em casa, a recomendação é fervê-lo durante 10 minutos.

Enlatados

O cuidado aqui é com a embalagem. “As latas têm um verniz interno, que preserva seu conteúdo. Pequenas batidas podem romper essa proteção e comprometer o alimento”, diz a nutricionista Patrícia Ramos. É importante também higienizá-las (lavar com água e detergente) antes de abri-las.

“Ao abrir, verifique se não contém bolhas, como se estivesse fermentado. Drene a água e consuma ou prepare imediatamente. Se não for utilizar todo conteúdo da lata, retire da embalagem, coloque em outro recipiente com tampa, marque a data e consuma em até três dias”.